Dizem que o carioca não gosta de chuva, mas alguém gosta? Acho que nem os nossos vizinhos da Terra da Garoa... O certo é que as chuvas das últimas semanas assustaram a cidade e colocaram o problema dos alagamento novamente na mesa do Carioca (em alguns casos, literalmente). Na Zona Sul do Rio, talvez a aversão do morador à água que cai do céu, seja maximizada com o impedimento do usufruto das belezas naturais da região, como banhos de mar, corridas nas orlas, pedaladas na lagoa, entre outros prazeres genuínos e gratuitos da população local. Porém, o que mais incomoda, é que as tempestades são sinônimas de alagamentos, trazendo prejuízos e riscos à população. O problema é antigo, frequente e parece estar longo de uma solução...

O transtorno atinge todos os bairros da região em pontos com reconhecidos potenciais de alagamento e que nas últimas semanas foram novamente castigados pela chuva: Av Epitácio Pessoa (Lagoa), Rua do Catete (Catete), Rua Jardim Botânico (Jardim Botânico), Rua Antônio Mendes Campos (Glória), Rua São Clemente (Botafogo), Aterro do Flamengo (Flamengo), Rocinha, entre outros. Mas se o problema é antigo, conhecido e previsível, por que a Prefeitura não consegue resolver?
A primeira causa, segundo alguns especialistas, vem do fato da região ser muito povoada e ao nível do mar. Nesse cenário, quando a tempestade coincide com a alta do nível do mar, as galerias pluviais deixam de escoar. As soluções de engenharia não são simples e baratas. Os piscinões são uma opção, mas não resolvem sozinhos o problema. Outra alternativa seria a construção de um cinturão antes das saídas das galerias para o mar. Uma abordagem mais moderna, ampla e não menos dispendiosa, prega a adoção de investimentos na renaturalização de rios e a união de soluções artificiais com opções de infraestrutura verde.
Uma ação simplória, barata e primordial, porém paliativa, é a manutenção adequada nas galerias existentes por parte da Prefeitura, para que funcionem com capacidade total. Nesse ponto, além da atual eficaz da Prefeitura, a população deveria fazer a sua parte, simplesmente não fazendo nada, ou seja, parando de sujar as ruas com os lixos que entopem as galerias.
Outro paliativo visando à minimização de riscos e prejuízos, bastante adotado em países europeus que sofrem com alagamentos constantes, seria o trabalho preventivo por parte da Defesa Civil, informando a população sobre a possibilidade de alagamentos. Atualmente, essa ação é realizada apenas em áreas consideradas de risco.
A prefeitura apresentou recentemente uma série de propostas para tentar solucionar os alagamentos na cidade. Elas fazem parte do Relatório de Drenagem e Manejo de Águas Pluviais Urbanas, publicado em 29 de dezembro do ano passado no Diário Oficial do município. O documento, da Fundação Instituto das Águas do Município do Rio de Janeiro (Rio-Águas), faz parte do Plano Municipal de Saneamento Básico, que todas as prefeituras do país se comprometeram a entregar até o final de 2015. Além de apresentar os pontos com risco de alagamento, contém uma lista de intervenções que devem ser feitas para evitar novas inundações. Entre os maiores problemas apontados na região estão a expansão urbana, que descaracterizou grande parte da rede de drenagem natural por meio de obras de canalização, aterros e desvio dos cursos originais, sendo que a faixa litorânea foi a mais aterrada.
Entre as propostas apresentadas estão a de reverter os efeitos nocivos da urbanização nas áreas já consolidadas, minimizar os impactos futuros nas áreas em processo de urbanização e tratar as cheias rápidas com medidas de reservação. Ou seja, a instalação de reservatórios imediatamente após o final do trecho de alagamento. São os chamados reservatórios de “pé de morro”, intervenções mais baratas do que o alargamento das calhas.
Segundo a Secretaria municipal de Saneamento e Recursos Hídricos existem projetos de melhorias no sistema de drenagem na região. Como as obras no bairro do Jardim Botânico, abrangendo o canal da Rua General Garzon e a implantação de galerias nas ruas Jardim Botânico e Pacheco Leão. Recentemente, acrescenta o órgão, foram feitas obras de melhorias no sistema de microdrenagem na Lagoa, com a instalação de tubulações que reduziram pontos de bolsões d´água, acabando com o problema num trecho histórico de alagamento próximo ao Jockey.
Já a Secretaria municipal de Conservação e Serviços Públicos informou que durante o ano equipes de suas 25 gerências executam um programa integrado de manutenção de drenagem nas vias principais e secundárias de todo o Rio. O serviço é intensificado nos meses que antecedem o verão. Nos últimos quatro meses, o órgão, com o apoio da Comlurb, concluiu a limpeza de mais de dois mil quilômetros mil quilômetros de galerias de águas pluviais em todo o Rio.
Ok, essas ações da Prefeitura são importantes, mas pontuais e para “apagar incêndio” (ironicamente). O Plano de propostas parece mais interessante e eficaz, mas será que vai pra frente?